quarta-feira, 23 de abril de 2014

Colóquio de Hermenêutica II: A mulher pode Exercer o Ministério Pastoral?




          I. Paulo defende que a mulher não pode exercer ministério no Corpo de Cristo, segundo 1 Coríntios 14.34-35 e 1 Timóteo 2.11-15?

Análise Histórico-Cultural:
1 Coríntios: Em qualquer discussão sobre os regulamentos atinentes às mulheres, convêm que nos lembremos que as mulheres eram tidas em bem baixa conta, na estimativa dos judeus. Muitos rabinos duvidavam que as mulheres tivessem alma. Se um escravo do sexo masculino podia ler as escrituras na sinagoga, uma mulher judia não tinha permissão para tanto. Nenhuma mulher podia freqüentar uma escola de teologia. Essa era uma ordenança judaica; as mulheres não era permitido ensinar nas assembléias, e nem mesmo fazerem indagações. Os rabinos ensinavam que ‘uma mulher não deve saber outra coisa senão como usar os seus utensílios caseiros’. E as declarações do rabino Eliezer, conforme transmitidas por Bammidbar Rabba, foi que são ambas dignas de observação e de execração. Essas declarações são as seguintes: “Antes sejam queimadas as palavras da lei, do que serem elas ensinadas a uma mulher”.
1 Timóteo: É consenso entre os estudiosos que Paulo a escreveu para instruir Timóteo a combater uma perigosa heresia que havia se infiltrado na igreja de Éfeso, que estava sob a sua responsabilidade.
Paulo não dá muitos detalhes na carta sobre a natureza dessa heresia, provavelmente porque Timóteo estava perfeitamente a par do problema. Mas na própria carta temos várias indicações dos problemas enfrentados por Timóteo. Os falsos mestres em Éfeso estavam semeando dissensões e se ocupando com trivialidades, ensinavam que a prática ascética era um meio para se alcançar uma espiritualidade mais elevada. Estavam ensinando a abstinência de certas comidas, do casamento, e do sexo em geral. Possivelmente estavam ensinando que o treinamento físico também servia para se alcançar esta espiritualidade; Várias mulheres da igreja estavam seguindo os falsos mestres e seus ensinos; Aparentemente, os falsos mestres estavam encorajando tais mulheres a trocarem o seu papel costumeiro no lar por uma atitude mais igualitária com respeito a seus maridos, e aos homens em geral.
O programa dos falsos mestres incluía denegrir o casamento, e isso certamente induziria ao abandono das funções tradicionais da mulher no lar. Algumas evidências sugerem esta interpretação. Em suas instruções às viúvas, Paulo determina que as mais novas se casem, tenham filhos e cuidem das suas casas; visto que já "algumas se desviaram, seguindo a Satanás", Desde que Paulo considera o ensino dos falsos mestres como sendo "ensino de demônios". Embora não saibamos os motivos com exatidão, transparece claramente que o ensino dos falsos mestres em Éfeso incluía a rejeição dos papéis tradicionais das mulheres no casamento, e um encorajamento a que elas reivindicassem papéis iguais na igreja e nos lares.
A situação parece bastante similar à da igreja de Corinto, onde as mulheres procuravam exercer no culto funções até então privativas dos homens cristãos. É contra este pano de fundo que Paulo determina às mulheres da igreja de Éfeso que aprendam em silêncio, que não ensinem nem exerçam autoridade sobre os homens, e que estejam em perfeita submissão.

Análise Gramatical:
“α γυνακες ν τας κκλησαις σιγτωσαν, ο γρ πιτρπεται ατας λαλεν· λλ ποτασσσθωσαν, καθς κα νµος λγει. 35 ε δ τι µαθεν θλουσιν, ν οκ τος δους νδρας περωττωσαν, ασχρν γρ στιν γυναικ λαλεν ν κκλησίᾳ”. (1 Corintios 14.35 – 36).
Falar- No original grego encontramos o verbo “lalein”, que se refere a qualquer modalidade de elocução verbal, incluindo a pregação e ate mesmo a conversação publica ou particular.
Vergonhoso - Trata-se da mesma palavra forte que Paulo usara, ao aludir ao costume das mulheres de raparem seus cabelos (ver I Cor. 11:6). E como se o apostolo houvesse escrito: É realmente escandaloso uma mulher falar publicamente, perante a congregação, ou perante qualquer porção da mesma, como uma função da igreja. 

“γυν ν συχίᾳ µανθαντω ν πσ ποταγ· 12 διδσκειν δ γυναικ οκ πιτρπω, οδ αθεντεν νδρς, λλ. εναι ν συχίᾳ. 13 δµ γρ πρτος πλσθη, ετα Εα· 14 κα δµ οκ πατθη, δ γυν ξαπατηθεσα ν παραβσει γγονεν. 15 σωθσεται δ δι τς τεκνογονας, ἐὰν µενωσιν ν πστει κα γπ κα γιασµ µετ σωφροσνης”. (1Timoteo 2. 11 – 15).

...silencio..., isto é, não orando, lendo as Escrituras ou ensinando em voz alta, na igreja.
...toda a submissão... No grego é “upotage, que significa sujeição, subordinação, obediência”. E isso tanto para com os maridos como para com os homens que são líderes da igreja, para que as mulheres não saíssem da linha apropriada para as mulheres, conforme ensinar, ler ou orar em público era considerado.
...exerça autoridade... No grego e authenteo, que significa ter autoridade sobre, dominar”, palavra encontrada exclusivamente aqui, em todo ο N.T. o que significa que se trata de uma das cento e setenta e cinco palavras peculiares a estas epistolas pastorais. Talvez esse vocábulo possa significar interpretar, mas essa maneira de compreender está fora de lugar. As evidencias léxicas favorecem a ideia de autoridade. O termo authentes, no grego, significa dominador absoluto, embora também fosse empregado para indicar assassino ou suicida. Todavia, a maioria dos estudiosos concorda que aqui esta em pauta a ideia de autoridade. Por conseguinte, as mulheres crentes não é lícito orar ou ler em voz alta, ensinar na igreja ou ocupar qualquer posição de autoridade, que a ponha sobre os hortiens, usurpando o lugar que cabe a eles.

Análise teológica:
Transparece do texto que ele não permite que a mulher, em posição de autoridade, ensine os homens. Nas Cartas Pastorais, ensinar sempre tem o sentido restrito de instrução doutrinária autoritativa, feita com o peso da autoridade oficial dos pastores e presbíteros (1 Tm 4.11; 6.2; 5.17). Ao que tudo indica, algumas mulheres da igreja de Éfeso, insufladas pelo ensino dos falsos mestres, estavam querendo essa posição oficial para ensinar nas assembléias cristãs. Paulo, porém, corrige a situação determinando que elas não assumam posição de liderança autorizada nas igrejas, para ensinarem doutrina cristã nos cultos, onde certamente homens estariam presentes. Paulo não está proibindo todo e qualquer tipo de ensino feito por mulheres nas igrejas. Profetizas na igreja apostólica certamente tinham algo a dizer aos homens durante os cultos. Para o apóstolo, a questão é o exercício de autoridade sobre homens, e não o ensino. O ministério didático feminino, exercido com o múnus da autoridade que ofícios de pastor e presbítero emprestam, seria uma violação dos princípios que Paulo percebe na criação e na queda.
O ensinar que Paulo não permite é aquele em que a mulher assume uma posição de autoridade eclesiástica sobre o homem. Isso é evidente do fato que Paulo fundamenta seu ensino nas diferenças com que homem e mulher foram criados (v. 13), e pela frase "autoridade sobre o homem" (v. 12b). Um equivalente moderno seria a ordenação como ministro da Palavra, para pregar a Palavra de Deus numa igreja local.
De qualquer forma, fica evidente que a atitude que o apóstolo exigia das mulheres cristãs de Éfeso, envenenadas pelo ensino dos falsos mestres, era de submissão e silêncio, quanto ao aprendizado da doutrina cristã nas assembléias. A proibição de exercer autoridade sobre os homens exclui as mulheres do ofício de presbítero, que é essencialmente o de governar e presidir a casa de Deus (1 Tm 3.4-5; 5.17), embora não as exclua de exercer outras atividades nas igrejas.
Quase que todos os livros do Novo Testamento foram escritos em resposta a uma situação específica de uma ou mais comunidades cristãs do século I, e nem por isto intérpretes igualitaristas defendem que nada do Novo Testamento se aplica às igrejas cristãs de hoje. A carta aos Gálatas, por exemplo, onde Paulo expõe a doutrina da justificação pela fé somente, foi escrita para combater o legalismo dos judaizantes que procuravam minar as igrejas gentílicas da Galácia, em meados do século I. Ousaríamos dizer que o ensino de Paulo sobre a justificação pela fé não tem mais relevância para as igrejas do final do século XX, por ter sido exposto em reação a uma heresia que afligia igrejas locais no século I? O ponto é que existem princípios e verdades permanentes que foram expressos para atender a questões locais, culturais e passageiras. Passam as circunstâncias históricas, mas o princípio teológico permanece. Assim, o comportamento inadequado das mulheres de Corinto e de Éfeso, e as heresias que o provocaram, cessaram historicamente, mas os princípios aplicados por Paulo para resolver os problemas causados por estas heresias permanecem válidos. Ou seja, o ensino de que as mulheres devem estar submissas à liderança masculina nas igrejas e na família, sem ocupar posições de liderança e governo, é o princípio permanente e válido para todas as épocas e culturas.
É evidente que há elementos no Novo Testamento que pertencem à cultura do século I. Por exemplo, nenhum estudioso sério afirmaria que a orientação de Paulo para que os cristãos se saúdem com "ósculo santo" (1 Co 16.20) é para ser observada literalmente nas igrejas ocidentais contemporâneas. Entretanto, o princípio que está por detrás desta orientação é permanente, ou seja, que os cristãos devem se saudar de forma santa, qualquer que seja a época ou cultura em que vivam. Obviamente, a forma em que essa saudação ocorrerá dependerá dos costumes locais, mas o princípio permanece o mesmo.
É exatamente o que ocorre quanto à determinação de Paulo para que as mulheres de Corinto usem o véu. O princípio por detrás desta ordem, conforme estudamos acima, é o de se apresentarem nos cultos em plena submissão à liderança masculina cristã. O uso do véu é a forma contextualizada pelo qual esse princípio se expressava. Hoje em dia, nas culturas ocidentais, o uso do véu não é uma expressão apropriada deste princípio.
O princípio permanente que está subjacente em 1 Coríntios 11.2-16, 14.34-35 e 1 Tm 2.11-12 é o de que se mantenham as distinções e os papéis intrínsecos ao homem e à mulher na igreja e na família. Assim, a mulher não deve inverter os papéis, e ocupar posição de autoridade sobre os homens, quer seja para governá-los ou ensiná-los.

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