I.
Paulo defende que a mulher não pode exercer
ministério no Corpo de Cristo, segundo 1 Coríntios 14.34-35 e 1 Timóteo
2.11-15?
Análise Histórico-Cultural:
1 Coríntios: Em
qualquer discussão sobre os regulamentos atinentes às mulheres, convêm que nos
lembremos que as mulheres eram tidas em bem baixa conta, na estimativa dos
judeus. Muitos rabinos duvidavam que as mulheres tivessem alma. Se um escravo
do sexo masculino podia ler as escrituras na sinagoga, uma mulher judia não
tinha permissão para tanto. Nenhuma mulher podia freqüentar uma escola de
teologia. Essa era uma
ordenança judaica; as mulheres não era permitido ensinar nas assembléias, e nem
mesmo fazerem indagações. Os rabinos ensinavam que ‘uma mulher não deve saber
outra coisa senão como usar os seus utensílios caseiros’. E as declarações do
rabino Eliezer, conforme transmitidas por Bammidbar Rabba, foi que são ambas
dignas de observação e de execração. Essas declarações são as seguintes: “Antes
sejam queimadas as palavras da lei, do que serem elas ensinadas a uma mulher”.
1
Timóteo: É
consenso entre os estudiosos que Paulo a escreveu para instruir Timóteo a
combater uma perigosa heresia que havia se infiltrado na igreja de Éfeso, que
estava sob a sua responsabilidade.
Paulo não dá muitos detalhes na carta sobre a natureza dessa heresia,
provavelmente porque Timóteo estava perfeitamente a par do problema. Mas na
própria carta temos várias indicações dos problemas enfrentados por Timóteo. Os
falsos mestres em Éfeso estavam semeando dissensões e se ocupando com
trivialidades, ensinavam que a prática ascética era um meio para se alcançar
uma espiritualidade mais elevada. Estavam ensinando a abstinência de certas
comidas, do casamento, e do sexo em geral. Possivelmente estavam ensinando que
o treinamento físico também servia para se alcançar esta espiritualidade; Várias
mulheres da igreja estavam seguindo os falsos mestres e seus ensinos; Aparentemente,
os falsos mestres estavam encorajando tais mulheres a trocarem o seu papel
costumeiro no lar por uma atitude mais igualitária com respeito a seus maridos,
e aos homens em geral.
O programa dos falsos mestres incluía denegrir o casamento, e isso
certamente induziria ao abandono das funções tradicionais da mulher no lar.
Algumas evidências sugerem esta interpretação. Em suas instruções às viúvas,
Paulo determina que as mais novas se casem, tenham filhos e cuidem das suas
casas; visto que já "algumas se desviaram, seguindo a Satanás", Desde
que Paulo considera o ensino dos falsos mestres como sendo "ensino de
demônios". Embora não saibamos os motivos com exatidão, transparece
claramente que o ensino dos falsos mestres em Éfeso incluía a rejeição dos
papéis tradicionais das mulheres no casamento, e um encorajamento a que elas
reivindicassem papéis iguais na igreja e nos lares.
A situação parece bastante similar à da igreja de Corinto, onde as
mulheres procuravam exercer no culto funções até então privativas dos homens
cristãos. É contra este pano de fundo que Paulo determina às mulheres da igreja
de Éfeso que aprendam em silêncio, que não ensinem nem exerçam autoridade sobre
os homens, e que estejam em perfeita submissão.
Análise
Gramatical:
“αἱ γυναῖκες ἐν ταῖς ἐκκλησίαις σιγάτωσαν, οὐ γὰρ ἐπιτρέπεται αὐταῖς λαλεῖν· ἀλλὰ ὑποτασσέσθωσαν, καθὼς
καὶ ὁ νόµος λέγει. 35 εἰ δέ τι µαθεῖν
θέλουσιν, ἐν οἴκῳ τοὺς ἰδίους
ἄνδρας ἐπερωτάτωσαν, αἰσχρὸν γάρ ἐστιν
γυναικὶ λαλεῖν ἐν ἐκκλησίᾳ”. (1 Corintios 14.35 – 36).
Falar- No original grego encontramos o verbo “lalein”, que se refere a qualquer
modalidade de elocução verbal, incluindo a pregação e ate mesmo a conversação
publica ou particular.
Vergonhoso - Trata-se da mesma palavra
forte que Paulo usara, ao aludir ao costume das mulheres de raparem seus
cabelos (ver I Cor. 11:6). E como se o apostolo houvesse escrito: É realmente
escandaloso uma mulher falar publicamente, perante a congregação, ou perante
qualquer porção da mesma, como uma função da igreja.
“γυνὴ ἐν ἡσυχίᾳ µανθανέτω ἐν πάσῃ ὑποταγῇ· 12 διδάσκειν
δὲ γυναικὶ οὐκ ἐπιτρέπω, οὐδὲ αὐθεντεῖν ἀνδρός, ἀλλ. εἶναι
ἐν ἡσυχίᾳ. 13
Ἀδὰµ γὰρ
πρῶτος
ἐπλάσθη, εἶτα
Εὕα·
14 καὶ Ἀδὰµ οὐκ ἠπατήθη, ἡ δὲ
γυνὴ ἐξαπατηθεῖσα
ἐν
παραβάσει
γέγονεν. 15
σωθήσεται
δὲ
διὰ τῆς
τεκνογονίας, ἐὰν µείνωσιν
ἐν
πίστει
καὶ ἀγάπῃ
καὶ ἁγιασµῷ µετὰ
σωφροσύνης”.
(1Timoteo 2. 11 – 15).
...silencio..., isto é, não orando, lendo as Escrituras ou ensinando em voz
alta, na igreja.
...toda a submissão... No grego é “upotage”,
que
significa “sujeição”, “subordinação”, “obediência”. E isso tanto
para com os maridos como para com os homens que são líderes da igreja, para que
as mulheres não saíssem da linha apropriada para as mulheres, conforme ensinar,
ler ou orar em público era considerado.
...exerça autoridade... No grego e “authenteo”, que significa “ter autoridade
sobre”, “dominar”, palavra encontrada exclusivamente aqui, em todo ο N.T.
o que significa que se trata de uma das cento e setenta e cinco palavras
peculiares a estas epistolas pastorais. Talvez esse vocábulo possa significar
interpretar, mas essa maneira de compreender está fora de lugar. As evidencias
léxicas favorecem a ideia de autoridade. O termo “authentes”, no grego, significa dominador absoluto, embora também fosse
empregado para indicar assassino ou suicida. Todavia, a maioria dos estudiosos
concorda que aqui esta em pauta a ideia de autoridade. Por conseguinte, as
mulheres crentes não é lícito orar ou ler em voz alta, ensinar na igreja ou
ocupar qualquer posição de autoridade, que a ponha sobre os hortiens, usurpando
o lugar que cabe a eles.
Análise teológica:
Transparece do texto que ele não permite que a mulher, em posição de
autoridade, ensine os homens. Nas Cartas Pastorais, ensinar sempre tem o
sentido restrito de instrução doutrinária autoritativa, feita com o peso da autoridade
oficial dos pastores e presbíteros (1 Tm 4.11; 6.2; 5.17). Ao que tudo indica,
algumas mulheres da igreja de Éfeso, insufladas pelo ensino dos falsos mestres,
estavam querendo essa posição oficial para ensinar nas assembléias cristãs.
Paulo, porém, corrige a situação determinando que elas não assumam posição de
liderança autorizada nas igrejas, para ensinarem doutrina cristã nos cultos,
onde certamente homens estariam presentes. Paulo
não está proibindo todo e qualquer tipo de ensino feito por mulheres nas
igrejas. Profetizas na igreja apostólica certamente tinham algo a dizer aos
homens durante os cultos. Para o
apóstolo, a questão é o exercício de autoridade sobre homens, e não o
ensino. O ministério didático feminino, exercido com o múnus da autoridade
que ofícios de pastor e presbítero emprestam, seria uma violação dos princípios
que Paulo percebe na criação e na queda.
O ensinar que Paulo não permite é aquele em
que a mulher assume uma posição de autoridade eclesiástica sobre o homem. Isso é evidente do fato que Paulo fundamenta seu
ensino nas diferenças com que homem e mulher foram criados (v. 13), e pela
frase "autoridade sobre o homem" (v. 12b). Um equivalente moderno
seria a ordenação como ministro da Palavra, para pregar a Palavra de Deus numa
igreja local.
De
qualquer forma, fica evidente que a atitude que o apóstolo exigia das mulheres
cristãs de Éfeso, envenenadas pelo ensino dos falsos mestres, era de submissão
e silêncio, quanto ao aprendizado da doutrina cristã nas assembléias. A proibição
de exercer autoridade sobre os homens exclui as mulheres do ofício de
presbítero, que é essencialmente o de governar e presidir a casa de Deus (1 Tm
3.4-5; 5.17), embora não as exclua de exercer outras atividades nas igrejas.
Quase que
todos os livros do Novo Testamento foram escritos em resposta a uma situação
específica de uma ou mais comunidades cristãs do século I, e nem por isto
intérpretes igualitaristas defendem que nada do Novo Testamento se aplica às
igrejas cristãs de hoje. A carta aos Gálatas, por exemplo, onde Paulo expõe a
doutrina da justificação pela fé somente, foi escrita para combater o legalismo
dos judaizantes que procuravam minar as igrejas gentílicas da Galácia, em
meados do século I. Ousaríamos dizer que o ensino de Paulo sobre a justificação
pela fé não tem mais relevância para as igrejas do final do século XX, por ter
sido exposto em reação a uma heresia que afligia igrejas locais no século I? O
ponto é que existem princípios e verdades permanentes que foram
expressos para atender a questões locais, culturais e passageiras. Passam as
circunstâncias históricas, mas o princípio teológico permanece. Assim, o
comportamento inadequado das mulheres de Corinto e de Éfeso, e as heresias que
o provocaram, cessaram historicamente, mas os princípios aplicados por
Paulo para resolver os problemas causados por estas heresias permanecem
válidos. Ou seja, o ensino de que as
mulheres devem estar submissas à liderança masculina nas igrejas e na família,
sem ocupar posições de liderança e governo, é o princípio permanente e válido
para todas as épocas e culturas.
É
evidente que há elementos no Novo Testamento que pertencem à cultura do século
I. Por exemplo, nenhum estudioso sério afirmaria que a orientação de Paulo para
que os cristãos se saúdem com "ósculo santo" (1 Co 16.20) é para ser
observada literalmente nas igrejas ocidentais contemporâneas. Entretanto, o princípio
que está por detrás desta orientação é permanente, ou seja, que os cristãos
devem se saudar de forma santa, qualquer que seja a época ou cultura em
que vivam. Obviamente, a forma em que essa saudação ocorrerá dependerá
dos costumes locais, mas o princípio permanece o mesmo.
É
exatamente o que ocorre quanto à determinação de Paulo para que as mulheres de
Corinto usem o véu. O princípio por detrás desta ordem, conforme
estudamos acima, é o de se apresentarem nos cultos em plena submissão à
liderança masculina cristã. O uso do véu é a forma contextualizada pelo
qual esse princípio se expressava. Hoje em dia, nas culturas ocidentais, o uso
do véu não é uma expressão apropriada deste princípio.
O princípio permanente que está subjacente
em 1 Coríntios 11.2-16, 14.34-35 e 1 Tm 2.11-12 é o de que se mantenham as
distinções e os papéis intrínsecos ao homem e à mulher na igreja e na família.
Assim, a mulher não deve inverter os papéis, e ocupar posição de autoridade
sobre os homens, quer seja para governá-los ou ensiná-los.
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